A Rocha Cardíaca

Ser de pedra dentro de mim

Cuja chave secreta, que enfim,

Guardava os segredos ocultos

Em gestos por vezes curtos

Em sinais quase imperceptíveis

De olhos, apenas olhos, sensíveis.

Agora se mostra, à luz do dia,

Como ouro reluzente em euforia

Pronta a revelar o que ocultava

A tanto custo, em poucas palavras

Que, traduzir-te, poderiam,

Ainda assim, poucos entenderiam.

Acredito que agora chegou a hora,

Oh formosa e misteriosa forma,

De abrir caminhos aos olhos curiosos.

E que deixes seus conteúdos apetitosos,

Que deixes tudo, para que apreciem cada pedaço,

Para que não deixem de decorar cada espaço,

Devorar cada migalha,

Saber de cada falha,

E depois decidam, por eles mesmos,

Se nós, assim como somos, valemos.

---

Então vá amada, o caminho está livre.

Vasculhe tudo, escolha o que lhe agradar,

Conheça o que eu nem sei se existe,

E procure um lugar pra se guardar.

Que seja lindo e espaçoso,

Ao mesmo tempo que tenebroso,

Que tenha corvos, cobras e lobos,

Para aqueles que nos querem mal. Tolos!

Que a nossa arma seja um “Eu te amo!”,

E nossas fugas sejam breves,

Que tudo o que é ser insano,

Pela nossa força se desintegre.

Seremos unha e carne, o cata-e-o-vento,

Almas gêmeas que se encontram.

Seremos rocha, aço, templo,

Dois corpos em um só coração.