No Seu Lugar

Você se foi deixando aqui essa triste lua

Que de te ver partir perdeu a pose e o riso;

Além do vento que te lambia feliz os cabelos

E que agora se percebe um choro nele contido;

Sem falar do tempo, que agora ainda passa,

Mas passa manco, torto. Não como antes: num tiro.

E do sol! Ah! O sol... é ele quem te procura.

Anda sem se cansar dizendo: eu preciso, eu preciso...

Junto com os pássaros que voam enfermos.

Te buscam a qualquer custo... Estão perdidos;

As borboletas bailando solitárias pela praça...

Acho que lhe esperam, pois cantam seu hino;

As árvores perdem as folhas, ficam nuas,

Esquecem de respirar e morrem nisso;

E as águas têm o reflexo, mas tentam escondê-lo,

Cuidando para que os homens não percam seu juízo.

Será uma tristeza. Em cada canto uma felicidade falsa

Que vai ser pela eternidade a contabilidade do prejuízo.

O caos toma conta das ruas,

Todos querendo falar contigo.

A neblina não permitirá vê-los

Pois tem vergonha desse nosso castigo.

E a vida só é levada na raça.

Assim, meio no improviso.

Enfim, tudo ficou triste, tento a fuga.

Mas apagá-la do coração, tirá-la de seu abrigo

Não é tarefa fácil. Esforço-me com todo zelo,

E acabo vendo, que em meio a tanta loucura sigo,

Sigo também a beira do penhasco, talvez da farsa

De atravessá-lo no medo de que morra no abismo.

Ainda assim não me entristeço, pois me resta uma parte sua

Que é o último pedaço que me cabe do paraíso.