da tempestade
...
[do ciclo dos ventos, das primaveras, de mim, talvez de ti]
…
I
sossego-me
assim, em mim,
descalço pelas núvens em cirros, tão longe, tão longe,
e mesmo que um cometa passe, escondo-me,
sei que é uma visão.
Onde estavas ontem,
ou num dia qualquer que pode ser noite[?]
ou não estavas[?]
Meros tracejados de trapezista vendado,
sossegar-me-ei no cheiro a terra que inspiro,
serei estranho de mim,
de tão longe
II
da tempestade que me açoita, dá-me de beber,
tenho sede,
o sal invadiu a minha boca como o barco em alto mar,
e a madeira rangente suplica sossego,
num cais algures, numa baía escura
que o mar escondeu esqueçendo as tormentas do vento norte.
Voltarei quando algumas das trevas
se afundarem,
quando do musgo nos telhados sairem as andorinhas e a rododáctila
irromper nesse tom rosado um novo dia.
De tão longe, tão longe,
vogarei pelos restos a mar que algum vento transportará
em saudade.
A palavra rododáctila, criada por Homero, “embevecido com o belo amanhecer na Grécia”, onde ele antropomorfiza Eo, a deusa da aurora, simbolizando-a na rosada mão aberta, fazendo desaparecer as trevas e trazendo o tom rosáceo, prenúncio da luz de um novo e lindo dia.” (Vida da palavra – Nascimento vida e morte das palavras de Frei Hermínio Bezerra, no seu blogue www.herminio-bezerra.blogspot.com/)