da tempestade

...

[do ciclo dos ventos, das primaveras, de mim, talvez de ti]

I

sossego-me

assim, em mim,

descalço pelas núvens em cirros, tão longe, tão longe,

e mesmo que um cometa passe, escondo-me,

sei que é uma visão.

Onde estavas ontem,

ou num dia qualquer que pode ser noite[?]

ou não estavas[?]

Meros tracejados de trapezista vendado,

sossegar-me-ei no cheiro a terra que inspiro,

serei estranho de mim,

de tão longe

II

da tempestade que me açoita, dá-me de beber,

tenho sede,

o sal invadiu a minha boca como o barco em alto mar,

e a madeira rangente suplica sossego,

num cais algures, numa baía escura

que o mar escondeu esqueçendo as tormentas do vento norte.

Voltarei quando algumas das trevas

se afundarem,

quando do musgo nos telhados sairem as andorinhas e a rododáctila

irromper nesse tom rosado um novo dia.

De tão longe, tão longe,

vogarei pelos restos a mar que algum vento transportará

em saudade.

A palavra rododáctila, criada por Homero, “embevecido com o belo amanhecer na Grécia”, onde ele antropomorfiza Eo, a deusa da aurora, simbolizando-a na rosada mão aberta, fazendo desaparecer as trevas e trazendo o tom rosáceo, prenúncio da luz de um novo e lindo dia.” (Vida da palavra – Nascimento vida e morte das palavras de Frei Hermínio Bezerra, no seu blogue www.herminio-bezerra.blogspot.com/)

Nkisi
Enviado por Nkisi em 02/05/2012
Código do texto: T3645034
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