saudade

...

[do ciclo dos ventos, das primaveras, de mim, talvez de ti]

I

desaguarei não como um rio

que jamais termina [...] nem pensamento,

como um mar, sim,

desaguarei como esse mar,

um desaguar repentino, violento,

[no teu colo],

e mesmo que não me sossegue

abrevia a distância em mim de nós.

Soltam-se as missangas que enfeitam os pulsos outrora cortados,

cicatrizes que a pele guarda,

ancoro-me num areal desconhecido.

II

saudade

não como o destino das viagens ou da pele que seca,

senta-te bem perto, lê-me o fado nas linhas da mão,

não ligues à linha da vida, fala-me do amanhã,

de algum ou outro sonho impossível, possível,

engana-me com o amar, jamais com o mar,

e no compasso dos pontos cardeais já apagados,

delimita as latitudes que as longitudes fiquem.

Horizontes sem as cataratas que imaginei,

sempre o saberei,

que os ventos despenteiam o mar em espuma esqueço-me,

o olhar fica-me sempre aprisionado

na dança das baleias

que ladeiam o barco que range.

Soltam-se as velas.

Nkisi
Enviado por Nkisi em 03/05/2012
Código do texto: T3647223
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