saudade
...
[do ciclo dos ventos, das primaveras, de mim, talvez de ti]
…
I
desaguarei não como um rio
que jamais termina [...] nem pensamento,
como um mar, sim,
desaguarei como esse mar,
um desaguar repentino, violento,
[no teu colo],
e mesmo que não me sossegue
abrevia a distância em mim de nós.
Soltam-se as missangas que enfeitam os pulsos outrora cortados,
cicatrizes que a pele guarda,
ancoro-me num areal desconhecido.
II
saudade
não como o destino das viagens ou da pele que seca,
senta-te bem perto, lê-me o fado nas linhas da mão,
não ligues à linha da vida, fala-me do amanhã,
de algum ou outro sonho impossível, possível,
engana-me com o amar, jamais com o mar,
e no compasso dos pontos cardeais já apagados,
delimita as latitudes que as longitudes fiquem.
Horizontes sem as cataratas que imaginei,
sempre o saberei,
que os ventos despenteiam o mar em espuma esqueço-me,
o olhar fica-me sempre aprisionado
na dança das baleias
que ladeiam o barco que range.
Soltam-se as velas.