SACRIFÍCIO

quantas avenidas

terei de transpassar

para chegar puro junto a ti

nesta noite livre?

quantas pétalas,

neste concreto,

terei de juntar

para fazer o buquê

que sonha tua idade,

que sonha tua cidade?

quantas abnegações,

nesta parcimônia,

terei que te oferecer

para mostrar um coração

rondando despojado,

rondando despejado?

quantos silêncios,

nesta catedral,

terei de violentar

para dizer o quanto te busquei

nas afiadas esquinas,

nas afiadas quinas?

quanto sal,

neste deserto,

terei de lamber

para provar um amor

sem nenhuma fresta,

sem nenhuma aresta?

quantas mortificações,

neste calvário,

terei de beber

para te oferecer o sangue

das largas feridas,

das largas avenidas?

quantas avenidas

terei de transpassar

para chegar puro junto a ti

nesta noite livre?