mar
...
[do ciclo dos ventos, das primaveras, de mim, talvez de ti]
…
I
vogam alguns pedaços de madeira
flutuam sem rumo,
nem areal à vista,
nem ilha no horizonte perdido.
Sol que queima a voz seca, gretam os lábios
gastos de tantas palavras sem verbo,
que no principio era-o, sim, fora-o,
e o passado assume-se, reassume-se outras vezes,
adiam-se alguns descansos,
esqueço-me de pensar nos ventos tão perto de mim,
rio-me, de um
II
mar que
recolheu todas as lágrimas, evaporou algumas
até paraísos distantes, muito distantes,
inexistentes como as preces,
para que serviram as lágrimas?
e mesmo de joelhos os homens perdoados dos nadas
[como se existissem]
ensurdecem o sonho que teima em fugir,
[não, não o deixo fugir hoje...]
ah...o sonho de uma noite que não tenha fim,
aquela onde fechei os olhos, sem temor,
e senti a pele, a tua pele na minha,
e navegaste-em sem portos, sem abrigos,
sem descansos, sem esquecimento, sem despedida,
sem tempo.
Procurarei por quem eu perdi,
essa voz silenciosa que me chama,
afinal, jamais me esqueci de te esquecer.