A MENINA E SUA BORBOLETA:
(Outra Crônica, ou o Conto do Dia)
Ela corria pelo gramado perseguindo borboletas coloridas que povoavam a jardim da praçinha.
Preferia, para sua coleção, as amarelas. Mas ainda não tinham nenhum exemplar.
Fico ali admirando a menina, sua cestinha e um frasco de maionese velho e vazio, onde ela pretendia guardar as borboletas quando as pegasse. Isso é claro: se conseguisse! Já que sua falta de talento para desempenhar a tarefa era notória.
Se eu pudesse correr, eu certamente correria, mas para bem longe de tudo, de mim, e de tudo...
Só me resta admirar o tempo, a paisagem ensolarada e a menina que corre feliz, e sobrevive apesar de um mundo todo feito contra ela.
A garota toda torta, se contorce enquanto corre freneticamente empenhada em conquistar seu objetivo, ela quer a borboleta mais que tudo.
E o que se faz quando não se tem mais nenhuma esperança?
A menina demonstra destreza ao capturar uma enorme borboleta de asas amarelas com detalhes vermelhos, e compaixão ao perceber que, preso no vidro, o inseto perdera todo seu encanto.
Ela libertou-o ser sem pestanejar. Ela achava um delito tanta beleza emoldurada numa parede. Ela era a favor da liberdade! Começava a pensar: “Porque aprisionar uma borboleta se posso ter todas elas voando pelo mundo?”.
E a menina era um gênio!
E eu? Mais uma pontada de dor, uma lágrima, um berro mudo, e permaneço estático. Não quero atrair a atenção do mundo. Hoje, eu só quero ser eu.
A menina agora feliz pela nova descoberta volta para sua casa, certamente vai procurar pela sua mãe e contar o acontecido, sua grande descoberta.
Eu? Permanecerei aqui, por mais algumas horas.
É que estou tão só hoje, e escrever isso parece me ajudar a esquecer de minha solidão.
As pessoas que me amam fogem de mim, ou eu delas?
Mas a tarde chega, e também tenho que partir, antes que o negrume da noite povoe a cena. O que não seria nenhum sacrifício para mim, que sinto a necessidade de escurecer.
Retiro-me.
Tenho preferido essa alternativa ultimamente, sempre na defensiva, é meu ideal de uma boa vida.
Despeço-me de meu leitor com um ponto final, e procuro dormir.