O cacto e a flor

Lá vai Deus cortando-me lenha,

Sem precisar de meu machado;

Misericórdia pura quem ganha,

Claro, é um bem-aventurado;

Ela nem veio, mas, já é minha,

Um anjo deu-me esse recado...

Lá vai Deus forjando minha Eva,

E meu arcabouço está intacto;

Fez o paladar depois a doce uva,

E o gosto resultante do impacto;

Solidão foi caminho para a diva,

Tinha uma flor no alto do cacto...

Feliz graças ao amor do Eterno,

E daquela que o cupido feriu;

O frio vai fugindo por seu turno,

O barco do amor já singra o rio;

Calor é inevitável, ligado o forno,

E essa ligação, Deus já permitiu...

As ameixas maduras caem do pé,

Um dia a menina deixa o ninho;

O relógio do amor acorda a mulher,

Ela troca , enfim, o leite por vinho;

Pois esse agora lhe parece melhor,

A flor abdica da guarda do espinho...