Sem regresso
Das lembranças que deixei ancoradas num tempo qualquer....
Esqueci.
Do som melancólico do piano tocando uma sonata, numa noite sem luar
Das orquídeas que sempre nascem em fevereiro e não voltam a florir, Mesmo que a saudade as provoque
Do barco aportando solene e em completo silêncio, n'alguma ilha distante
Do encanto das marés de março
Do coqueiral contorcendo-se na dança desenfreada dos ventos em redemoinho
Das certezas que nasciam a cada noite de lua cheia...
Esqueci.
Esqueci para fugir da tentação de voltar.
Não devemos mais regressar, amor.
Pois ainda que fiquemos invisíveis aos olhos do tempo
Hão de ficar as saudades da noite que partimos.
Dos dias que colhiamos espuma sobre as ondas.
Desfaço, como um laço, as loucas fantasias que criamos junto ao mar
Desfaço os sonhos
Ouço pela última vez o piano e suas notas acalmam meu corpo.
Mas minha alma anseia, desesperadamente
Minhas mãos cruzam e descruzam nesta espera infinda
Pelo aviso do farol que já não pisca
No céu, apagam-se algumas estrelas, deixando o infinito vazio.
Lanço um novo olhar para as orquídeas que não florescem mais
E no infinito... eu... só.