A espera

Durante anos, o relógio

da parede soou horas intermináveis.

Era a época da longa espera,

quando o calendário desfolhava

lentamente os dias,

meses, anos, em uma contagem

de tempo sem fim.

Ela esperava.

Ele não vinha.

Ela, a dona da casa,

a senhora daquele casebre perdido

no meio do nada, em um

longíquo vilarejo à beira do mar.

Ele, o soldado que um dia

partira para a guerra.

Ela não entendia por que

os homens lutavam, por que

os homens morriam estupidamente.

Enquanto isso ela sentia

a vida parada, sempre à espera do amor

que nunca regressava.

Os dias seguiam o curso das marés,

em um ir e vir repleto de

desejos e incertezas.

Um dia talvez chegasse

uma carta que lhe

dissesse que o homem amado

havia morrido no campo de batalha,

e teria sido enterrado com honras

dadas a um herói.

Mas ela não queria isso.

Ela não gostava de

pensar dessa forma tão trágica e objetiva.

Preferia pensar na volta dele,

inteiro e somente para ela.

Então eles poderiam

retomar o curso de suas vidas,

como se a interrupção tivesse

sido apenas momentânea.

E ela ia cuidando das

flores, semeando o campo

com as próprias mãos e

colhendo o alimento que a terra oferecia,

preparando o pão com

o trigo e guardando com

todo o cuidado o coração que

somente esperava.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 27/06/2012
Código do texto: T3746908
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