A gota d'água
Podemos conversar?
Sem evitar olhar nos olhos,
à meia luz, à meia voz.
Por as cartas na mesa
em baixo e bom som,
expor a nudez das palavras
enquanto lúcidos.
Conversar...
Sobre as areias deste mar,
sem constrangimento,
sem pudor,
sem o medo das frases
que irão nos cortar,
sem ferir o azul desta paisagem.
Conversar...
No escuro deste cinema,
sem àquele nó na garganta,
apenas com o nó da gravata,
em meio ao sal da pipoca,
aos tragos gélidos da coca-cola.
Falar das inconveniências
que nos fizeram encalhar até aqui,
falar das coisas pendentes,
àquelas que protelamos,
que adiamos com nossos corpos,
àquelas que varremos sob o tapete,
por capricho ou covardia.
Precisamos conversar,
estancar ressentimentos e mágoas,
antes que sejamos a gota d'água.