Há de VIR

Deuses de ébano, de pano, de músculos, de farrapos...

Porque me dobro aos teus pés, se és como eu

Finito e falível?

No teu corpo perecível e em tua alma em transição,

Que amor colocar em tuas mãos?

Se nem sei dele bem o feitio,

Se me descomponho e me derramo no vazio

De sonhos imaginados e rotas ilusões?

Porque deposito em ti

Parte de meu dia, meu sorriso, minha alegria,

A fé que deveria estar em ser mais,

Num ser maior que, certamente,

Tem pena e dó de nós ensandecidos mortais...

Que mais esperar de ti, homem comum,

Do que o beijo perfeito dos gibis

O enredo farto de ardis

Que eu mesma criei me perdendo de mim

Ao te buscar?

Na mulher mais esculpida

Pelas procelas da vida

No carvalho que parecia imbatível,

Porque retorcido em tempestades

Na suposta sabedoria que parece vir com a idade...

O de que precisamos todos, sem exceção,

Parece ser os augúrios dos afetos...

Sem eles a vida escorre, feito água em terra seca...

Há que vir tempo bom de chuvarada

Pra molhar essa estrada

E regar o pé de planta, quase esturricado na cova...

Mas se a chuva chega, vive a planta em terra que parecia morta!!!!