SEIS PASOS

Não sei amar tudo de uma vez,

Vou me apegando aos poucos.

Dia a dia, mês a mês.

Sou um tipo,

Uma forma,

Um jeito.

Gosto de experimentar.

De me arriscar,

De me jogar, e me arrebento todo.

Cacos e pedados de mim.

Sou uma trama,

Com trilha sonora e um grito.

Um canto desafinado, e o grito,

Porque o que mais me importa é ser eu.

Dia a dia, mês a mês.

Sou um vaso,

Mármore polido, duro e oco.

Uma pequena fistula e vaso,

Deságuo sem parar.

Gélido, fúnebre, perpendicular.

E não há graça no espanto, nem no susto.

E sou surpresa, porque me surpreendo com o peso,

Com o ganho, com o medo.

E ainda tem a porta,

Porque também sou a porta,

A saída, o aceno, um adeus.

Pequeno, ensaiado, engendrado e rítmico.

Misturado com seis passos, e nada mais.