A VIGÍLIA
Trancando no quarto, eu me permito à saudade.
Aquela mesma e velha,
Doce e sagaz.
Trancado no quarto, eu me permito à saudade.
A única lembrança,
É tudo o que me resta.
Trancado no quarto, eu me permito à saudade.
As lágrimas enfeitam de um turvo ensandecido o cenário.
E tudo é água...
Trancado no quarto, eu me permito à saudade.
A lembrança reverbera e evapora.
Porque trancado no quarto, eu prefiro a saudade,
Embebida na mentira, e transmitida no silêncio.
O sibilar dos lábios, miúdos, contraídos em forma de cochicho.
Então me agarro no que eu acredito; no que eu sinto; e ao que eu tenho.
Porque trancado no quarto, eu só tenho à saudade.
A mesma velha ilusão,
É ainda assim, é melhor que não ter nada.
Então, trancado no quarto, eu prefiro à saudade.
Busco no sono, a verdade fantasmagórica do onírico,
E temendo o amanhã,
Prevaleço na essência original.
Porque trancado no quarto,
Eu prefiro a saudade, ao martírio,
Meu vacilo, e oscilo.
E trancado no quarto, eu me rendo à saudade.
A memória, ao cheiro, ao delírio.