GÊMEAS ALGEMAS

Ainda que me algemem os pulsos
Que prendam com correntes os pés
E num quarto escuro me encarcerem
Mesmo que um passo eu não possa dar
Que a nenhum lugar eu possa ir
E dos meus lábios amordaçados
Nenhuma palavra possa se ouvir
Ainda assim, prisioneira,
Meus versos farei!
Não há nada capaz de aprisionar
Meus pensamentos, que são livres
E podem até voar!
Suas asas voam tão alto
Que eles, meus cruéis algozes
Jamais poderão alcançar!
Embora firam minha pulsação,
Ninguém poderá fazê-lo parar
Pois não existem correntes
Que me prendam a alma!
Olhando para essas frias algemas
Vejo um macho... e uma fêmea...
Sim, são iguais... idênticas!
E eu, irremediavelmente romântica,
Em minha memória um poema rabisco
Concebido de um louco romance;
No auge do meu devaneio
Invento que o tempo, sábio senhor
Transformou essas algemas
Em apaixonadas almas gêmeas...
E, num milagroso efeito
Que só um grande amor tem direito
Unidas pela vida afora
Ficarão, por vontade própria
Presas uma à outra
Vivendo, a se amarem cada vez mais
Uma bela e romântica história...!