CONFESSO

Não sei muito sobre muitas coisas.

Hoje isso é tranquilo, mas houve um tempo em que já me incomodou.

E mesmo assim, quero a alegria dos pássaros colorindo com seu canto a manhã, também quero o tom laranja do por do sol beijando as montanhas no horizonte.

Consumido pela agonia, tento depositar no papel alguma daquelas dores, que de herança me restou.

Algo sempre fica, e permanece, mesmo com o passar tempo.

E aos poucos as verdades vão aparecendo, e nada é tão bom, nem tão puro quanto parece ser.

Essa é uma visão menos calorosa das coisas, eu sei, mas talvez: seja a mais realista.

Prefiro ser pessimista, e me apoiar na dúvida, isso aumenta as minhas chances de me surpreender com o contrario revigorante.

Em tese.

Continuo errando, sempre.

E agarro-me ao que sobrou, como um escape.

Bebo uma taça desse veneno que me consome.

E deixo exalar o perfume em agonia.

Sentindo cada parte da dor...

Permito sofrimento, assim mesmo, em generosas colheradas.

Tudo de uma vez.

Só assim saberei que você não vai voltar.

Nunca antes doeu tanto...

Eu só demorei um pouco mais para perceber.

Mas um dia a gente sempre acorda.

O sol veio, um pouco mais tarde que de costume, mas ele veio me trazendo janeiro.