MEU BARQUINHO DE PAPEL

Eu diria ao mar: Cresça! Se pudesse...

Mas, ainda assim, as palavras não passariam de mim.

E como não passam as horas quando você não está aqui,

O tempo também deixará de existir.

Em breve.

Então brinco de criar o dia, de mudar a rotina,

Mas é tudo ilusão.

É tudo como se eu fosse um deus, mas em forma de menino,

Sapeca, ligeiro e mansinho.

Eu diria ao vento: Voe, mesmo sem assas, voe.

Ainda assim seria dia, ainda assim...

Mas não é esse o caminho das flores, não é esse...

E do outro lado, um rosto e uma janela.

Do outro lado, um Dom Quixote desafiando seu dragão.

Eu sinto ser alguém, e mesmo assim não desisto da busca,

Não de alguém, mas do eu dentro de mim.

Alguma clareza, alguma certeza...

E o dia há de vir.

As horas brotam do chão, como água fria que corre sem pressa,

Para lugar algum.

Então eu diria à lua: Dissolva-se em milhares de pedaços, e chova!

E mesmo assim, eu não teria as flores...

Não teria nada além da solidão.

Lanternas colorem o céu, é a noite segue em transformação.

Laranjas, azuis, vermelhas, brancas e anil.

Ainda assim, não há nada além de fragmentos,

Partes, marcas, caixas, palavras, símbolos e emoção.

E a espera se torna mais que uma velha amiga,

Um eu grande, mas fora de mim.