PRESENTE

Caminhavas despreocupada,

com uma leveza quase que irreal.

Corro para alcançar teu passo,

chego até você e perco a voz,

a segurança, a cabeça.

Te olho firme

em teus olhos dispersivos.

Sinto o perfume juvenil que usas,

vejo o torneado bronzeado do teu corpo,

e não sou capaz dizer nada.

Me olhas assustada e segues segura.

Consciente que acaba de me hipnotizar

com tua beleza, com teu jeito,

com tua distancia.

Pouco depois volto,

procuro tua silhueta,

e não te vejo.

Corro tropeço desesperado,

pra te achar outra vez,

mas canso de nada encontrar

e sigo abatido.

Caminho como um sonhador satisfeito,

em que, mesmo por instantes,

ter tido você tão perto,

tão junto a mim.

Muita sorte ou benção ter visto você.

Muitos anos se passam

e já não lembro como caminhavas,

como era teu corpo,

do cheiro único de tua pele.

Pena, já não sou o mesmo sonhador.

E na esquina, o sinal fica vermelho,

paro o carro,

absorto no dia a dia.

procuro uma vaga,

consigo estacionar.

Desço me viro para fechar a porta.

e te vejo caminhando, linda,

com a mesma leveza de quinze anos atrás.

Mas já não ouso correr em teu encalço.

Te sigo apenas com os olhos,

hoje já mais cansados

e sinto que nada mudou em você,

mas sigo sozinho.

Chegando ao meu destino,

percebo que alguém me espera

e quando chego perto,

minhas narinas sentem

o mesmo fragor de anos atrás.

Logo te viras

e para minha surpresa,

tens apenas dezoito anos.

Penso confuso,

não pode ser a mesma pessoa,

mas não consigo ver

qualquer diferença.

Teus lábios, ainda mais carnudos,

se movem apenas o suficiente

para que mostres dentes perfeitos

e me olhas como que impondo

teus desejos.

Manda que eu me cale.

Você chega,

pega minha mão e beija

com infinita ternura.

Percorre com tuas mãos meus ombros,

acaricia meu rosto.

Teus dedos se perdem no emaranhado

dos meus cabelos e lança um olhar

cheio de desejo, de carinho.

Rápido, teu vestido vai ao chão,

enchendo com teu corpo,

o lugar com uma luz difusa,

fazendo agora uma penumbra,

com tom mágico e convidativo.

E em ato continuo,

me puxas e cola

teus lábios nos meus.

Te olho espantado,

tentando falar,

querendo entender alguma coisa.

Mas teu corpo nu, junto ao meu,

me leva apenas a entender

que não sou mais senhor

de minhas vontades.

E sem uma única palavra sequer,

tiras peça por peça de minhas roupas.

Me deita decidida e senhora,

no chão frio e começa

a me dar teu corpo em harmonia,

em loucura,

em amor,

em vez única.

Ficamos cerca de,

nem sei, quanto tempo juntos.

Apenas nos amando,

vivendo em nós dois o amor,

ficando serenos e satisfeitos.

Nesse instante,

ainda meio atordoado e surpreso,

te via consciente e segura.

Sem dizer nada,

te levantas,

veste tuas roupas,

abre a porta e diz:

_Obrigada senhor,

por aceitar este presente.

Por aceitares a mim,

como aceitarias minha mãe.

Obrigada.

Fecha a porta e parte.

E eu,

com os olhos semi-abertos,

te vejo sair ligeira e decidida.

E sem querer te perder,

volto rápido a sonhar.