Quando de mim tu te apartaste...

“Quando tuas mãos saem,
amada, para as minhas,
o que me trazem voando?
Por que se detiveram
em minha boca, súbitas,
e por que as reconheço
como se outrora então
as tivesse tocado,
como se antes de ser
houvessem percorrido
minha fronte e a cintura?”

( Pablo Neruda in “Tuas mãos”)




Eu também “antes de ser”
Senti-me por ti tocada
De tuas mãos recebi
a emoção necessária
À vida
e às delícias de se sentir amada

Quantas vezes te disse,amor,
Que a nossa história não é de agora.
Quantas vezes,
Com olhos nos olhos,
Coração com coração,
Tive tuas mãos
A me  percorrer inteira
E de teus lábios
Senti o gosto de quem ama
Com a verdade da alma
e da sofreguidão.


Ah, meu amante,
Meu querido,
Em algum tempo de nossa história
Sorvemos da mesma taça
O sabor delicioso do vinho
que Eros oferecia
a quem do amor
Decifrava todos os códigos.


E os minutos, as horas
Se eternizavam
Em nosso abraço
Em nossas carícias aveludadas...


Mas o caminho que nos conduzia um ao outro
Abriu-se em trilhas variadas,
E tu te perdeste
Quando de mim precisou apartar.

Na volta para os meus braços
Te aninhaste em outro corpo
Ou pelo menos nisso pensaste.

Então não mais fomos por Eros servidos,
Nem mais nos perdemos
em nosso encantamento
Único e indivisível.

E se de mim te apartaste,
Se não entendeste o que tuas mãos
Souberam
desde o primeiro toque,
Que a essência do amor
Não surge nesta esfera,
Vem sempre de outras eras e dimensões,
É por que de mim não mereces mais
O desvelo nem a fidelidade
De quem no amor de verdade
sempre confia.


Não.
Andas perdido em questões outras,
A tua busca já não é a minha busca.
Queres algo além de mim.
Já não te sacias com o meu afeto
tão intenso e sincero,
Nem com o meu jeito menina de ser.
Cansaste e te olvidaste
Da ternura plena,
Da voz amena,
Tão doce,
Com que me falavas 
quando de ti
estava bem perto.


Ah essa voz 
Amada
Que juntamente com tuas mãos
Me tiravam todo o travo
E me fazia um oceano de doçura


Essa voz agora transmutou-se
tornou-se dura
Irreconhecível
tão feia e fria ficou

Assim
Tuas carícias se foram
Em outra direção,
Tuas mãos se resvalaram
Em outras geografias
me calando a poesia
momentaneamente

E nos desvios do caminho
Que o trazia a mim,
Trilhaste o mais difícil:
O da falta de verdade,
O da omissão
e ausência de cuidado.


Vá adiante.
Aqui me quedarei
Não como derrotada.
escreverei outros enredos
assumirei outras personagens
Mas ainda acreditando
Que tu não aprendeste a ler os sinais.
Não tiveste a paciência
Dos monges,
A delicadeza dos colibris,
Nem a sabedoria necessária
Pra viver plenamente
a história
Que já nos pertence
desde outras encarnações.


Ah, mas os meus versos
embora acanhados
entristecidos
sem a lascívia e altivez de outrora
me chegaram agorinha
pelo vento
trazidos pelo sopro divino
inspirador de quem ama.

 
amarilia
Enviado por amarilia em 06/02/2013
Reeditado em 02/09/2013
Código do texto: T4125956
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