A última carta de amor

Foi preciso que eu me esquecesse de mim...

Foi preciso que não houvesse mais luz ao meu redor.

Foi preciso que eu olhasse em volta e não encontrasse mais o sorriso que eu procurava.

Foi preciso estar no chão, pra ver que já era hora de me levantar.

Precisei ver que tudo que eu queria já não estava mais ao meu alcance... 

Às vezes, é necessário reconhecer que acabou.

E muitas vezes só acaba quando se reconhece isso.

O amor é uma recompensa.

É chegar ao fim de um poema com reticências...

É criar asas quando o abismo se adianta aos pés.

É ser o melhor que se pode ser.

Mas é preciso que haja um porquê...

Uma razão...

Alguém do seu lado...

E não do outro lado da rua de braços dados com um outro alguém.

É nessa hora que se vê que já não há mais o melhor pra ser...

Nem abismo pra saltar...

Nem asas pra voar.

Existe o segundo em que o amor morre...

E você percebe que continua vivo.

E que já não doe mais.

Foi preciso que o amor morresse...

Pra que eu pudesse, enfim, reviver...

Entre novas reticências, me desfaço das minhas velhas asas... 

E procuro um novo abismo pra saltar...

Já consigo ver ao longe o melhor de mim...

Enfim.

Acabou.

Silvia Coutinho
Enviado por Silvia Coutinho em 11/03/2013
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