::: VERSO SEM ROSTO DA POESIA SEM NOME :::
Meus olhos semicerrados
Olham pela janela
O cobre cinzento do céu de tulipas.
Chove calmamente lírios
Nos rios amargos de asfalto
Repletos de espinhos
E com pétalas franzinas
De rosas azuis.
Eu vejo um jardim
Completo de fragrâncias
De amores-perfeitos.
Nessa terra coberta de cimento
Que a cidade, enfim, cultivou,
Tudo tão estranho é, que hoje,
O jardineiro está no escritório
E não no jardim.
Veste terno e usa canetas,
Não macacão e velhas pás.
Não há borboletas
Nem canto ou pia.
E, assim, envolto em flores tortas
Tenta encontrar a muda
De seu amor-perfeito.
Não quer margaridas que possam secar,
Ou damas-da-noite saudosas,
Quer sempre seu velho e
Bom amor-perfeito.
E assim sou jardineiro cultivando poesias
Nos cantos secretos
Deste círculo que há em meu peito,
Deste desenho dadaísta,
Deste quadro futurista
Que planta sonhos com defeitos.
Arte realista,
Que sonha qualquer artista,
Morrer em seus efeitos!
E, desta forma,
Meu jardim virou um quadro,
Uma escultura, uma esperança...
É também diário,
Poesia, música e ciranda.
Meu verso sem rosto
Busca amor-perfeito.
E quem não busca? Eu indagaria...
Sonhos colhidos na sarjeta de casa,
Banhos tomados juntos,
Beijos demorados...
Confissões no banco da praça,
Abraços no caminho da barca,
Amores guardados.
No pincel, nossos filhos dançam,
Na caneta, nossas almas cantam,
E no destino, o silêncio esconde.
Sou jardineiro que do amor-perfeito
Imagina as risadas.
Quem sou eu?
Sou jardineiro que busca amor-perfeito
Porque rosas soberbas não ficaram,
Lírios delicados não suportaram,
E margaridas murcharam.
Meu peito quer, sim, é amor-perfeito
Na brisa do meu carro,
No quintal de casa,
No jardim de minha alma.
E por isso escrevo
Um verso sem rosto,
Uma poesia sem nome
Um sonho sem destino...
São Paulo 26 de Março de 2013
Autor: Ygor Pierry P. Ditão