Anseio de amor

Quisera um amor que de repente surgisse,

Sem ler o que escrevo, ou saber como penso;

Que meu rosto lhe bastasse quando visse,

Que mesmo em trajes comuns, remisse,

Todos meus lapsos, com um sentir intenso...

Que me poupasse esforços de parecer belo,

E o ensaiado discurso de soar interessante;

Que me achasse elegante de calção e chinelo,

E mesmo ignorando quais pregos martelo,

Estivesse ao meu lado a cada instante...

Respeitasse só o espaço de minha metade,

Até as loucuras que minha alma extravasa;

Que pusesse por terra essa dura Soledade,

Que o mundo lá fora lhe fosse tempestade,

E meu ombro parecesse uma sólida casa...

Quem sabe essa dádiva surgirá de repente,

E num primeiro instante nem pareça bela;

Impressão que sumirá ao olhar diferente,

Vai cuidar de minhas flores quando ausente,

Pra que ao retornar, eu cuide apenas dela...

Um amor que encontrasse o mais profundo,

Corpo, alma, espírito, o meu ser, completo;

Mas, quanto vasculhei em meu ir vagabundo!

Abri quase todas as gavetas desse mundo,

Deve se esconder, nalgum cofre secreto...