AMOR PASSAGEIRO

Tudo que espero não vem dos planos que faço:

pois que finjo esquadros nas mãos

e planejo traços modernos,

versos cifrados,

composição sem rima,

orações descoordenadas.

E sucessivo, desperdiço.

Esperava o amor fazendo planos – pois que finjo esquadros nas mãos.

Meus olhos famintos dissimulam

tristes a suspeita que seguiria o comboio

dos deslocados sentado a reparar a paisagem da janela.

Solene ardil: que tem a lua de chama

se fria aparelha-se no lago, na escuridão mais densa

e ainda ilumina do alto colocada

tua face então oculta ¿

Inventado personagem distraído...

calo sem meter a raiz amarga do medo

goela abaixo.

Te esperava fazendo planos,

e não entendo-te inesperado,

insuspeito, decidido.

Deves ter sido a paisagem

e eu do teu lado

- todo o tempo passageiro nesse mundo -

a distração sentado.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 17/07/2013
Reeditado em 22/07/2013
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