Estopim

Vida de mil esquinas,

a principío, canso.

Gasto além da conta.

Nada sei sobre o céu de estrelas

e apenas conto as velas na noite de natal,

raras luzes em velhos castiçais.

Saio em desparada pelas ruas

alardeando notas de contentamento,

na verdade, tento estar bem,

trafegando além do tormento.

O estado ofegante denuncia,

sorrateiramente prenuncia o encontro.

Fogo brando sob os pés

extasiando os sentidos,

rodopiando a libido,

rente ao corpo, à queima-roupa.

etérea bruma pairou,

interveio em nossas intenções,

reduzindo os escapes,

apressando a conjunção das almas.

Estopim!

Fogo intenso no olhar

escarnecendo a decência,

lógica, vã filosofia,

infelizes freios éticos.

Xeque-mate!

Fica então esse gosto

e sabor de infinitude guardada,

roçando a língua,

na relva do peito cravada,

antes tivesse defesas, porém,

não as tenho mais,

do sopro descrente

o riso crescente se fez.

Vento forte e tresloucado

escancarou-me o querer.

nômade, cigano, sigo a ti,

todo instante, toda vida

universo de honroso ébano,

rompe, apaga em mim os medos,

as chagas do caminho atroz.

Caçador gentil

a correr pelos prados meus,

rastrendo me as pegadas

vazadas na aspereza do solo

acerca-te de sua presa,

leva contigo para onde for

homem de bem, enviado dos céus,

o amanhã, hoje nos pertence.

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 13/04/2007
Código do texto: T447652
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