Instinto Selvagem

Bocas famintas, o que me destes em troca?

Destes-me a saudade de amar

Foi assim que amamos

No cais

Meu Porto Seguro

Amamos a mercê das despedidas

Amamos a espera do encontrar

Amamos no réveillon

Amamos no dia 31 de Maio.

Bocas ardentes, o que ofereceis em favor da vida?

Oferecem teus antibióticos, cartas mal escritas

Escondem no cansaço memórias de esfinge

Amamos o sempre de cada vez.

Bocas disciplinadas, o que te intrigas?

No quanto que me entendas

Contentas-me o saber

Donde venho o que sou?

Bocas assíduas de novos carnavais

Bocas latentes

Saudosas são as criaturas

Tua lei da decomposição natural.

Caudalosos, vejo os rios que por aqui passam

Nossas vidas, vossos mundos

A matemática conspira a favor de nossas benevolências.

Sinto em ti desejos que nunca percebi

Em nenhum corpo, de nenhum Sol

Bocas petulantes, o que trazes pra mim?

-Trago-lhe o perfume de outras bocas!

Bocas com o quê de instinto selvagem.

(Carlos André)