NENHUM BECO ESQUECE A SOMBRA
A tarde é triste quando o anjo ruivo das cóleras
desce na praça das estátuas vulgares
semeando pragas de brasa no chão metálico
Aonde muros ostentam o nome sacro do sangue,
o sonho desfia o outono rouco das pataquadas estelionatárias
- apagados os archotes ao longo do acampamento,
neste tempo em que cidade não existe mais,
mas a procura é incerta: deserto o objetivo
As paredes soluçam a balada do amor e do ódio,
estendida a noite por degraus acima das estrelas e das perversões,
e a barba do espírito escorre das memórias
pelas ruas que obedecem aos cães e aos bêbados,
e a única companhia é a droga amontoada nas sacolas,
nenhum beco esquece a sombra
porque é hora de seguir na armadura de velocidade e rodas sexuais,
o que resta de selvagem no mundo das armas cromadas
rola das vinganças rasteiras o animal da ansiedade,
quando resistir é imperioso no alagado pátio dos penitentes,
apenas o espião decorou a cor dos olhos do rosto degolado,
cantarolando o amor macabro no cofre do regresso,
deixando no ar o amargo das cores da borboleta