ODE AO VENTO E AO NAVIOZINHO

Sentei-me num murinho junto ao rio
O vento estava ao norte
E esquadrinhei seu porte
Lá vinha bem longe um belo navio
Tão disforme ruflar
Agitava as árvores e o rio brando
Formava no vento a imagem soprando
Aos éolos, ruflo alar
Depois foram os sonhos de criança
E os teus beijos atentos
Quais me foram alentos
O vento nas imagens da esperança
E o calor destes pares
Foi-se despindo em ares

Não sem o brio de postas caravelas
Sopro que uiva mistérios
Musicando em saltérios
Guarda meu amor no leme e nas velas
Se conduz tempestades...
Diz-me isto e vem rindo-se até mim
- Ah! Naviozinho, quem te leva assim
E traz em mim saudades?
Pois quem leva embora negros pecados?
Lembra a moça no alvor
Que me amou sem temor...
Tão tácito a abrigar tufões calados
Sou a fúria dos rios
E que leva os navios...

- Ah! Naviozinho, quem te leva assim?
É o vento - disse então
Sou na água canção
Sou vento uivante de apreço sem fim
Sou alma sem coragem
Sou segredo que navega sem dono
Sou brisa sem crepúsculo e sem sono
Partir sem ter viagem
Eu sou também ar em ti tramitando
Óxido a te afogar
Sou verbo a cantar
- Ó naviozinho, por que vais sangrando?
- És espanto de dores?
Sou o sofrer de amores...
jairomellis
Enviado por jairomellis em 16/04/2007
Código do texto: T451969
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