Aos Mortos

Aos mortos

Ó tu, podre que na terra enluta,

Disforme fado no letargo imerso

Da imunda carne a matéria bruta.

Ó tu, resto d'uma modorra, interno

De necrófagos em escôo co'o imundo

endocarpo, ignóbil prazer também?!

Ah, a bicharia, o festim importuno,

Os rins, a vaga, delírio a'lguém.

Qu'importa o patogênico não inútil?!

Se no esterno a dor berra infante,

O intestino o bicho rói, todo fútil;

As mãos, a pele, os olhos errantes.

U'a infecta ferida sempre derradeira,

O úmero falido, o lábio que osculava

Ali em putrefação. - Ó que nojeira.

Restos fecais à alimento aflorava,

C'um exicial fedor à todo vaporoso

De podridão. - Ó destino fatal...

O Coração carcomido. Que horroroso!

Ah! O clangor soa a nota tumbal;

Que baila a turva morte escura?!

- Dance co'o verme ao triste fim...

Em sequaz imerso, e tão enxuta,

O belo vurmo hei a cheirar enfim.

Stacarca

Stacarca
Enviado por Stacarca em 16/04/2007
Reeditado em 19/04/2007
Código do texto: T452428