MUITO AMOR

Te conheci num momento triste e esquecido,

quando o céu estava sombrio e desestrelado,

também desprovido desse luar,

contudo tão melancólico quanto um olhar desiludido.

Guardei nas lembranças o teu perfume afável,

teus gestos de abandono e de saudade,

teus olhos nadando em lágrimas, fortuitas,

tua voz perdida num amargo desafino,

talvez sonhando em fazer tantas coisas

Talvez ansindo realizar tantos belos feitos.

Não, nada, nunca, só a brisa em desespero

rasgando a mágoa das ruas, levantando poeira,

respirando sobre as folhas, roçando teu rosto cansado,

revolvendo sem entusiasmo os teus cabelos finos

Que eram negros como uma noite apagada.

Tua ias sem rumo à procura de quê? Do talvez, decerto,

dos senões imiscuídos nas entranhas do porvir,

do mutismo solitário, doloroso, angustiante

Querias algo que provavelmente nem sabias o que fosse,

e te perdias enfim nos próprios passos trôpegos,

parecias flutuar num céu mágico e misterioso,

como se levada somente pelo pensamento ensandecido

Teu ego se perdia no coração do teu cérebro eunuco.

Choravas e sorrias ao mesmo tempo, cantavas até,

e eram pobres músicas mórbidas como chuva de granizo

destruindo telhados, como fogueiras chamuscando o ar fresco

Lembravam flores murchas esvaindo sobre brasas ardentes,

como sendo desprovidas crianças inocentes alardeando

o clamor dos tantos famintos por seios túrgidos,

por carinhos inexistentes, por abraços que jamais seriam dados.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 14/10/2013
Reeditado em 14/10/2013
Código do texto: T4525673
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