AMOR DESCONSTRUÍDO
Cada sulco, cada lanho, cada veio, cada ruga... cicatriz, forma, fuga, freio!
Não tem tamanho, é caos, é flor, machuca, entorta...
Arranca espinho, adoça, me encanta como se teu som me fosse, de puro enleio
Toda a minha alma grita, chama o teu nome gritando o meu
E eu nem sei quem sou ou que nome tenho,
Só sei partir, acabo tudo sem chegar ao fim
Não sei ser quem devo, pra ti, que me bate à porta
Arranho cada parede, choro, mancha-tapetes.
Eu me absorvo na tua inexistência, tu és quem não és e eu, não sou o que fui!
Perdi de existir e estou à margem, perdido na margem
Calado, sem voz, mudo, em silêncio
Faísca em que reflito a pequenez da tua grandeza, de ti, que nem existe
Cada sentimento decomposto em átomos ansiosos, cada reação
Mecânica de frases feitas, antiprática perfeição.
Quem sou ela, por quem sou ele? Do quê não tu, por que não vem?
Desgasta minha pele, dilui o meu suor, macera os meus ramos
E da minha essência, corrompida, conspurcada
Sairá do teu corpo, dolorido, de tua fonte
O sentimento mais sublime, virulento
Um tal amor, com insanidade, com tortura
E o desespero do desejo
Quando nada mais restar, é essa a ardência que trará da margem
E te transformará, no espelho da minha imagem.