E Seguiu Sozinha

Viver e passar,

passar de mansinho,

sem fazer sombra,

sem ocupar espaços,

sem sonhar com a lua

ou habitar jardins de pompa.

Assim foi a vida dela

passando, devagar,

outorgando aos dias

a sensação

que alguma coisa

ia em frente.

E, ela, olhando

as coisas,

sem ao menos entender

que estava ali,

para nada,

nem para o esgasgo refletir,

nem para o futuro compreender.

São pessoas assim

que se fazem nossos amigos,

passageiros, rápidos e velozes,

não fazem sombra -

só sentem dor.

Sinto por ela:

não saber porque veio.

E se perguntar a alguém,

que não erre,

também não saberá dizer

qual sua missão

na superfície da malfadada

terra.

Veio de algum espaço

para outro espaço.

E isso,

sentido não tem.

Nem rezar resolve, neste

claro que se abre

num abismo

que é só dela,

e dela só falta pular.

Hoje vim de um enterro,

e senti a mulher que passou

de mansinho,

sem fazer sombra,

só montando quebra-cabeças,

com a figura de

sua própria morte.

Nem faz sentido:

não tem história,

nem sequer segurou sua sombra.

E seguiu sozinha para o reino

onde a luz só bate uma vez

e a morte arreda prá sempre.

roxy do rio
Enviado por roxy do rio em 29/03/2014
Reeditado em 26/07/2014
Código do texto: T4748361
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