Maria Sem Mar
Sinceridade é coisa particular,
arejada, batida de ventos,
soleira da lua,
plataforma da agonia.
Preocupação tem,
quando a ansiedade raspa de mansinho,
a solidão fica alerta,
senão tudo afunda pertinho
no nosso caminho.
Sinceridade é coisa particular,
tem pureza e qualidade,
já testada e aprovada.
Mas carrega no seu espaço
tão miúdo
fácil intimidade.
Fico de reserva.
Pois o coração apronta cada uma,
junto com os caminhos da vida,
e a gente não liga, mas acontece toda
hora.
Com caminhos, só de idas!
Dizem que acontece com todo mundo
Comigo, vá lá, carregou uma vez:
me atrelei num rosto de mulher
que tinha tudo o que um pomar
de bom possui:
beleza, probidade e acalanto.
Chega a ser uma história simples
mas as coisas simples é que dóem mais:
foi ela me largar
depois de vários natais
e me subjuguei ao ócio
e a perenidade que
toda leviandade destrói e ata.
Fiquei pó,
fiquei doente
tão de repente.
Fiquei mascado e dolorido.
Afinal foi a única mulher que
amei e, hoje,
vivo de porta em porta,
procurando rabichos da saia
dela.
Um grego sem mar!
Mas só encontro marinheiros
sem navios
e capitães sem naus por inteiro!
Sem ela,
Sou agora vazio assim:
um mar grande e radioso
batido, plácido e de cor carmim !