NADA

Amar

assim feito eu e você

é um verbo

mais que perfeito

seja pretérito

presente

ou futuro

é imperfeito

nada que dê jeito

que acalme

que resolva os contrários

nossas diferenças

(tem que ter peito pra se amar assim)

rusgas a toda hora

rugas

o tempo passa

a pele vira uva-passa

muda a estação: neve até nos cabelos

mas no coração, verão

mesmo depois de um dia de cão

eu ainda a 'choraminguar'

vem uma noite nova

minha mão na sua

cheia, a lua

você crescente

e é sempre bom, como pão quente

nenhum complemento

não importa o elemento:

metade da maçã

alma gêmea

yin & yang

completude?

só no espelho, sabemos

não somos mais dois fedelhos

o amor é guerra, ainda que do bem

nada de zen

a palavra é sem, é falta

escrevo à lauta

e não preencho o vazio

apenas arrulho

sou rola

não rolha, já disse

nada tampono

esperança disso

seria criancice

loucura

coisa de poeta

quando entra em alfa, em beta

e canta na sua gaiola (o papel)

caminho inverso ao trilhado por Zola:

voltar as costas ao Real

e se inscrever na elegia romântica

Ana Guimarães

Ana Guimarães
Enviado por Ana Guimarães em 06/05/2007
Reeditado em 17/04/2023
Código do texto: T477236
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