"Até dois infinitos, mesmo um ninguém..."
"Se conseguisse sanar seus pensamentos, e entender os meus;
se pudesse penetrar no mais fundo, mais intimo,
e mais intenso de ti, sem perder-se de mim em você,
ou de você, no lirismo do belo e ideal,
que sonho aqui em mim...
Se te pudesse fazer rosas sem aculhos;
se soubesse lhe mostrar a beleza na filosofia daquilo
que muitas vezes nos machuca;
sustentar o peso do belo, do delicado, do que nos encanta,
nos excita, e nos faz andar...
Cuspir na cara das adversidades, e sorrir
para o sorriso irônico do mundo;
fazer disto vida, experiência,
poesia.
Mas me contenho, me seguro, me ponho em meu lugar;
me pondero, me cogito, e no fim, me calo -
me basto em pensar.
Sei que não sou nada demais: nem rei, nem poeta,
nem mesmo um ninguém;
mas, se pudesse seria o caminho, seria a pedra,
seria o porto seguro, seria tudo,
e suportaria até nossos dois infinitos juntos...
Seria eu e você, isto e aquilo;
aquilo e o que já fomos, até aonde não conseguirmos chegar;
seriamos nós, rumo a alguma coisa,
olhando para as mesmas estrelas - com um mesmo olhar,
e um mesmo sentimento de ausência do que nos segure,
e impeça de sonhar."