Notas de tinta
Horas passam até o final da tarde,
Quando o sol tinge tudo de laranja
Escrevo os nossos nomes lado a lado,
Entre linhas da folha de caderno amassada
No papel as letras bem desenhadas,
Resultados da distração provocada pela imaginação
O desejo é de que fiquemos tão próximos
Quanto à tinta grudada no papel
Parecem infantis os desenhos ao lado das palavras
Mas eles são tudo que temos até então
Como as lembranças de quando agimos feito crianças
Movidos pela própria liberdade e vontades
As músicas de setembro parecem pertencer à outra estação,
Quando escuto as que me lembram de você
Tento reaquecer o seu abraço, no abraço,
E a quentura do seu corpo, com lembranças
As músicas de setembro estão distantes
Parecem banais e presas num tempo qualquer
Num tempo em que o futuro parecia certo
E de que tudo teria um final previsível
Procuro formas de manter você em mim
Bêbado dos próprios rabiscos, sentimentos e canções
Você é a lembrança em flashes
Frames que seguem resistentes ao desapego
Deixo escapar segredos
Porque sou refém dos próprios olhos
Desejo cada vez mais materialidade e continuidade
Aos frames que saltam da minha imaginação
Os rostos tingidos de laranja
Escondem a timidez
Mas não os sentimentos reavivados,
Com a presença ou com as músicas lembradas
Das bobagens espontâneas do final da tarde
Lembranças e imaginação em sonhos retirantes
Na noite tudo começa outra vez,
Mas há dias em que só durmo
E noutros sonho com você