ABREVIAÇÃO DOS MOMENTOS
E a noite chega com a mesma imensidão de outrora.
Como a maré que lenta alcança os pés,
Como a onda que, quando menos se espera,
Te devora.
E a carne sucumbe ao ludíbrio do escuro jocoso e incerto.
O velho cheiro molhado de coisas murchas e gastas,
Espalhadas sobre a tarde bucólica e gigante,
Reluzindo no infinito das horas.
Gritando debaixo da escada,
Os olhos fixos no canto ilhado,
De porções incertas do agora.
E a insegurança de um dia longo corrompe os planos,
O eterno se confunde nos minutos da demora.
Da incerteza que consome o amago,
Farpas laceradas de agonia,
Do céu derretido lá fora.
Cristalinas, as nuvens se dissolvem afáveis,
Em pedaços de pura exaustão,
No escárnio virginal do vazio,
A ansiedade de quem se esperanceia,
Da saudade que lhe devora.
Aprisionado no vitral da espera,
O olhar refletindo a imagem do agora.
Reações instantâneas,
Abreviadas no tempo,
No empalar das emoções,
Cristalizadas em gotas chuvosas.
Embebidas em plástico bolha,
Porções galgados de euforia.
Compiladas em estatuetas de vinil,
A demora chorosa das horas.