MINHA METADE SEM MIM

Queria te arrancar de mim

Como uma depilação definitiva

Como se arranca pela raiz

Uma dor de dente

Mais sempre sobra resíduos fantasmas

Acreditei no céu

E agora em brancas nuvens

Te desenho neste pedacinho de papel

Neste inusitado desencontro

Tento me livrar deste monstro

Que povoa minha mente

Tu ainda ardes em mim como vulcão latente

Como se eu fosse o destino e tu meu carma

Chegas sem fazer alarde me fere sem arma

E te inflamas como se eu - um herdeiro infante

Estivesse preso dentro do inferno de Dante

Sou um mero anão sedento junto a água fresca

E esta paixão que sinto é tão gigantesca

Como o monte Sião

E a grandeza pacífica de Salomão

Esquecer-te é me eternizar no teu instante

Um bater das asas dos teus cílios sobre mim

Faria de mim um imortal Serafim

Como um sonho que ardejante em ti adormeço

Esqueço-me e passo a viver em tua alma

Em teu escombro em teu avesso

Vives em mim como um muro de grafite

De que vale a tarde ensolarada

Sem banco na praça e sem pombos em revoada...

Sou matemática sem tabuada

Uma pseudociese - um zero engravidado de nada...

Não consigo sair de teu mundo que me encanta

Com incontidas fragrâncias exalando as profundezas de tuas essências!

E agora em outra boca trocas libidinosas reminiscências

Que tantos segredos saíram de teus sussurros e urros

Por entre gemidos no lóbulo da orelha no vale do escuro

Entre peles e arrepios

Líamos em braile o mapa da paixão e dos cios

Agora sou uma lápide cheia de mormaço que descansa no frio

Tudo é silencio e a lembrança perdida

Escorrendo palidamente é meu estio

E tudo que era de trás pra frente e transparente como o tato

É somente uma sombra um delírio se escondendo

Na água da boca de meu palato

Exsudadas pelo sol morno de minha lente de contato.

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 23/06/2014
Código do texto: T4855091
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