Engano Ledo
Meu corpo sente o frio
Longe de ti não exala cio
No caudaloso curso do rio
Tenta equilíbrio num fino fio
Saudade me toca o medo
Me acorda súbito tão cedo
Sem seu braço de aconchego
Contigo só sonho, meu engano ledo
Bate minha porta a ausência
Entra, segue o corredor, quer permanência
No ar, desesperado, busco sua essência
Suplico, sem receio, por clemência
Noite longa que nunca acaba
Alerta vejo fantasmas na madrugada
Cinzas de mim se espalham, dormem na escada
Procuro por ti, senão o nada
Meu corpo não descansa
Luta bravo e já se cansa
Enfrenta toda a pujança
Quase perde a esperança
Minha mente não dorme
A insônia de afã disforme
Me toma com força enorme
Rezo que eu flua, que me entorne
Na cama vazia, lençóis a postos
Testemunhas da fuga sem remorsos
Sinto gelar meus ossos
Meu coração chora – agora, só destroços.