Sangra

Sangra o peito, ainda sem jeito, desabitado, entristecido.

Não cabe nada em meu coração, mesmo vazio, a dor invadiu.

Você se foi sem nunca ter sido, num abraço dolorido que só na minha alma existiu.

Tudo que foi dito, ninguém registrou, não houve testemunha desse crime tão perfeito!

Você escorregou para fora de meus lençóis de seda, no meio da noite. Saiu sorrateiro, como gato vadio que se cansou do lar.

E eu fiquei insana com meus sonhos pra embalar. O sono não vem, embalo a mim mesma cantando feito louca melodias de amor.

A minha dor é das almas que se perderam e não acharam mais o caminho de casa, dos cães abandonados na beira da estrada. Sangra.

Fui atropelada pela solidão, desencanto dos apaixonados.

Você nem mesmo tem rosto, nem mesmo se apresentou, nunca esqueceu uma "muda" de roupa em minha sala, nunca provou da minha comida, nem afagou os cabelos da filha que tenho.

Nunca, nunca mesmo eu soube seu endereço, nunca pude mandar-te cravos, ou rosas, ou orquídeas (feridas ou não).

Nada se efetivou, nunca me inundaste com teus fluidos, nem sei que gosto tem a boca que tanto desejei.

Sangra como uma artéria rompida, hemorragia.

Sei que não vai adiantar, isso nada vai estancar. O que escorre da veia não é sangue.... é força vital.

Fenobarbital barbitúrico anfetamina haloperidol.

E eu nem uso baby doll.

Rio de mim mesma, pra não me afogar nesse rio de tristeza.

Aloha.

Voando Alto
Enviado por Voando Alto em 18/05/2007
Código do texto: T492046