O QUE SE É

Antes de ser, fui...metade de minha mãe... metade de meu pai...

Ansioso pelo mundo novo a ser descoberto

vim de um paradeiro incerto

um futuro tão distante

como estar na terra de gigantes

e descer à terra dos inconstantes

homens das cavernas

descer pelos cabelos das nuvens e cair como chuva na árida paisagem

cambalear andar tatear mirar o mar da dissolução

dissolver o retrato do passado e passar a existir

na plenitude do chão...

Depois de ser, sou...inteiro pai...inteiro mãe...

Do pai trago o rosto largo e mouro

a fecundação o esforço a luta o papel o teatro lógico

as mãos de mover tijolos e levantar cidades para além dos oceanos

a deter as corredeiras e incendiar fogueiras

da mãe possuo o dom da lua

ouço as misérias e me comovo

vejo o filho do filho de alguém o vejo como ninguém

vê a si rodeado de titubeares

lágrimas salgadas a temperar o macarrão de domingo...

Sou o que soo

a voz que rompeu o dique da paixão

erva cimento sangue sol firmamento

os filhos que voam por céus alaranjados

as mulheres da minha vida que amei amo e amarei

um homem vive o que lhe serve de rédeas

seu destino

um homem não é um poema

é apenas

uma poesia em formação...