À deriva

Eu só queria

segurar suas mãos

e guiá-las pelo meu corpo

em busca de um porto,

em busca de um cais.

E eu queria

que seu corpo quente

fosse um barco à deriva,

embarcando nas ondas do meu corpo,

contrariando toda a rota,

velejando contra a corrente.

Eu só queria

a tua boca na minha,

navegando sozinha,

onde tuas mãos estiveram,

e onde elas desconhecem.

E eu queria

que o cálculo do sextante

te fizesse meu astro,

e me fizesse teu horizonte,

sem você não funciona,

sem mim não vai adiante.

Eu só queria

velejar pelo teu corpo,

te fazer meu cais, e,

mesmo orientada pela bússola,

me perder nas tuas ondas,

confundir os pontos cardeais.

E eu só queria

ser um pouco sua,

flutuar na Lua,

vestida ou nua,

tanto faz.