JARDINEIRAS DA MESMA FLOR

As palavras estão ficando velhas, alquebradas,

estão indo à igreja rezar, pedir a Deus possíveis adiamentos,

se ajoelham, pedem, imploram, algumas choram,

são velhas palavras que caíram em desuso,

vivem, quase às escondidas, em mundos escusos,

se dão as mãos, riem de velhas piadas,

são felizes com muito pouco, quase nada,

celebram sua permanência em antigos poemas,

relembram serões em casas vetustas,

palavras que, em outros tempos,

voavam com o vento

sobrevoando o mundo que ainda carecia de outros inventos,

tinham a pele parecida com vermelhas uvas...

Debruçadas nas janelas espiam as novas palavras

que dirigem seus carros em alta velocidade,

andam em circuitos de computadores avançados,

vivem seus dias sem medo ou pecado,

não creem em leis e nem em tábuas,

livres até onde der,

até onde conseguirem por os seus pés,

algumas conseguem, outras não,

é por isso que muitas vivem na casa da palavra ilusão...

Uma delas penetrou surdamente num lugar chamado Pentágono...

O nome dela?

Paz...

Invadiu secretamente os aposentos do presidente,

mostrou-lhe seus brancos dentes,

sem manchas de sangue,

foi expulsa por uma palavra que por ela tinha repulsa,

que muitos dela se aproveitam, muitos a usam

para seus próprios proveitos;

enxotada, só não morreu porque a paz

sobrevive aos horrores da fera,

(que a expulsou),

que tem o nome de "Guerra..."

As palavras sobrevivem no coração dos homens,

plantam, colhem, jardineiras são da mesma flor;

plantadas nos arredores da alma, tem fome

e se alimentam da mesma coisa

chamada amor...