O CANTO DA COTOVIA
Poema de Valdez Juval


- Que escreves?
- Um poema.
- Posso ver?
- Por que não?
- Prefiro que leias.
- Mulher,
homem,
...
amor,
amor.
...
Carne,
carne.
...
Carícias.
Desejos.
Prazer.
Êxtase.
...
Tempo.
...
Ventre.
Fruto.
Filho.
- Bom!
Como se chama?
- Vida.
- É verdade...
- A razão de existir...
- É a vida!
- Concordo.
- E agora...
- O que?
- Vou complementar.
- Como?
- Completar o ciclo.
- Não entendi.
- A outra parte.
- Da vida?
- Sim.
- Lê também.
- Vida.
...
Passagem.
...
Tempo
...
Pouco tempo.
Muito pouco tempo!
- Também concordo.
- Como também é o amor.
- Como assim?
- Olha...
- O que?
- Ali.
- Onde?
- Nesta direção.
- Sim.
- Estás vendo?
- Uma mulher.
- Sim, na varanda.
- Cabelos compridos...
- Presos em tranças.
- Conheces?
- É Julieta.
- Julieta?
- Sim.
É bela.
- Admito.
- Provocante!
Encantadora.
Sensual.
Ela me transforma
me excita,
me fortalece.
Sinto a erecção.
O desejo.
- Como podes?
- Escuta!
- O que?
- Não estás ouvindo?
- É o canto da cotovia.
- Pois é.
Como é grande a minha ilusão.
O tempo já passou
e ainda penso que sou Romeu.

                  0609.1998
 

valdezjuval
Enviado por valdezjuval em 18/12/2014
Reeditado em 26/10/2022
Código do texto: T5073976
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