O amor de Fernando.

Tu não chutas a lama e as poças de água das ruas da tua cidade, mas chutas o meu amor.

Mas eu já sei da minha foto no teu guarda-roupas e na tua carteira cheia!

Não há roupas em meu guarda-roupas ou valor em minha carteira.

Mas há amor em meu coração e muito amor a se fazer na minha cama de trapos forrados em miúdos pedaços de pano sortidos em cores e cheirosos como os teus de seda.

Dizem que amor não põe comida na mesa, mas eu posso te prometer muito amor na cama, na mesa e no banho.

Fiz até poesia para ti:

“Deixo-te passar uma semana comigo, jantaremos a vista do mar, no boteco do seu Chico.

Deixo-te escolher o que comer, que não seja caviar irlandês.

Deixo-te escolher o que beber, que não seja Chandon e whisky escocês.

Deixo você me chamar de pé-rapado e de duro sem lugar para descansar na morte.

Deixo você jogar o jogo da minha vida e acabar com a minha sorte.

Deixo-te escolher tudo, mesmo que o meu mundo seja tão minúsculo para ti.

Você pode escolher tudo, até mesmo passar o resto da sua vida em mim.”

Não fumas cigarros de palha, mas tragas a minha alma toda vez que me pede escondida para irmos ao seu porão.

Lá não há colchão como em meu barraco, não há sol como em minha janela e mesmo assim me jogas em seus braços no escuro da tua alma, no escuro do teu porão, no calor do teu coração.

Cuido de tuas flores, cuido de suas bagagens, cuido da tua rosa cheirosa e da tua mala macia.

Cuido dos teus cães e faz-me cachorro em seus delírios, em suas loucuras.

Me mantem empregado, me mantem alimentado, mas recusa me manter aconchegado em teus braços.

Não sei se ainda devo zelar...

Zelar da tua casa, do teu corpo ou do meu coração!

...

- Fernando, Fernando!

- Fernando foi embora senhorita.

- Embora? Mas para onde?

- Não sei senhorita, mas deixou um recado.

“Cuidar de tua rosa deixa-me apenas com cravos nas mãos, não sou capaz de zelar por tanto se não tens zelo por mim. Veja tua fonte como estás limpa e como há vida em teus peixes. Vejas como há vida em teus jardins.

Veja como saudáveis estão os teus cães, veja como satisfeita eu a deixavas, mas veja como sujo está minha alma, sem vida meu coração e insatisfeito o meu amor. Que a vida encarregue de me distanciar de amores como o teu e de promessas falsas como as tuas.

Fernando”

-Então eu choro meu pequeno Fernando.

Igor Improta
Enviado por Igor Improta em 05/03/2015
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