discrepância
teu sangue é azul, blue, melancólico
e você continua caminhando tal como Carlos, sempre vertical
enquanto eu me debruço no teu peito com meu sangue vermelho gritante
que pulsa nas veias saltadas de todos os homens que mandei embora por te amar demais
eu sou a destruição de Hiroshima e Nagasaki
sou os cômodos alagados das casas atingidas por todos os Tsunamis da Indonésia
você é a calmaria que surge ao fim de tudo
a tranquilidade dos pais quando avistam o filho que pensavam estar morto
as flores que dão vida aos solos outrora devastados
e eu te cubro com meus destroços, amorteço a sua queda, te protejo de mim
teus olhos me pulverizam cada centímetro do corpo
e eu só me preocupo com a culpa que te transfiro por meio dos meus versos
eu deveria ser menos mental e mais corpórea, você sabe
mas eu poderia escoar minha libido como água na boca de todos os sedentos
e ainda assim me sentiria seca
pois é você que me exuma o corpo em putrefação e o transforma novamente em matéria viva
e eu continuo sendo essa catástrofe em forma feminina
que esmurra tuas paredes como um vento que antecede tempestades
quando queria ser apenas uma brisa suave tocando o seu rosto
serenamente
num fim de tarde de outono