Rabiscos no tempo

– Hoje alimentei-me em teus oceanos

fartos de vida

onde recrutei todas as palavras

ao tempo

denunciando meu amor

coleccionado em sofrimentos

repartidos em gomos de tédio

que a esperança alimenta

displicente

diluindo assim meu poema

mais faminto

neste presídio onde moro

regando todas as palavras

que escrevi sem mais repúdios

somente resguardando teus

silêncios desmedidos

vagueando embuçados na exalação

dos tempos

que o tempo espoliou de mim

deixando encastrado

no prazer e nos sentidos

fulgurantes palavras deliciosas

desta pareceria imortalizada

na entrega verdadeira redimida

prestes a explodir…sem alaridos

do teu consentimento

nem frases desalinhadas de ressentimento

– Qualquer dor escondida num

coração desventurado

ainda me consome,algemado a

uma morte já sem remédio

Tanta fartura me mata de fome

quando escuto teus monótonos gemidos

descansando lentamente

onde infligimos ao supérfluo destino

uma era de saudades deglutidas

em epiléticos desejos desinibidos

Onde for que repercutirmos nossos instintos

seremos esquivos tão amantes

trajando mais felizes nossas atracções inexplicáveis

confinados àquela química

tão cúmplice,obstinada

rendida à inesgotável lei

onde se redigem todos os versos

servidos gentilmente num apetitoso

despertar

quando nos entrelaçamos

transpirando juntos

resistindo juntos

enlouquecendo juntos

morrendo a cada instante…eternamente juntos

Frederico de Castro

Frederico de Castro
Enviado por Frederico de Castro em 18/05/2015
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