Rabiscos no tempo
– Hoje alimentei-me em teus oceanos
fartos de vida
onde recrutei todas as palavras
ao tempo
denunciando meu amor
coleccionado em sofrimentos
repartidos em gomos de tédio
que a esperança alimenta
displicente
diluindo assim meu poema
mais faminto
neste presídio onde moro
regando todas as palavras
que escrevi sem mais repúdios
somente resguardando teus
silêncios desmedidos
vagueando embuçados na exalação
dos tempos
que o tempo espoliou de mim
deixando encastrado
no prazer e nos sentidos
fulgurantes palavras deliciosas
desta pareceria imortalizada
na entrega verdadeira redimida
prestes a explodir…sem alaridos
do teu consentimento
nem frases desalinhadas de ressentimento
– Qualquer dor escondida num
coração desventurado
ainda me consome,algemado a
uma morte já sem remédio
Tanta fartura me mata de fome
quando escuto teus monótonos gemidos
descansando lentamente
onde infligimos ao supérfluo destino
uma era de saudades deglutidas
em epiléticos desejos desinibidos
Onde for que repercutirmos nossos instintos
seremos esquivos tão amantes
trajando mais felizes nossas atracções inexplicáveis
confinados àquela química
tão cúmplice,obstinada
rendida à inesgotável lei
onde se redigem todos os versos
servidos gentilmente num apetitoso
despertar
quando nos entrelaçamos
transpirando juntos
resistindo juntos
enlouquecendo juntos
morrendo a cada instante…eternamente juntos
Frederico de Castro