SANHAÇO
A alteridade que em vão nos pugna
faz-me, ao espelho, buscar a tua imagem
para irmos juntos, co´as as almas flamas
refletidas sempre, desde aparte.
Se a prosódia é por estilo,
em transitivo o verbo Ser, tornar
posto que para te amar
mais que querer, é preciso Ser-te!
Se pouso em teus olhos, tristes, e umedeço
se ao grito surdo do mundo, eu silencio
se em teu verso solto, me reconheço
arauto de um viver confuso, que anuncio
este amor, que tive, e que me esqueço
é um ardor mais profundo, que fastio.
Ferve, em ti, a epiderme, no equinócio ou veranico
como um sanhaço tece enlaçada trama, fio a fio.
Quisera-te a alumbrada seiva dos desejos;
A claridade do sorriso na fronte bela;
Quisera os sons perdidos no solfejo, e de manhã
no céu bruxuleante, o derradeiro sortilégio de uma estrela.
No claro/escuro, ao fulgor de uma vela acesa
velar-te em longo beijo de cinema
num filme amante em que, por fraco, eu anoiteço.