Na tua ilharga
Embrenho-me hoje
perto da nudez madrugadora
roubando todas as horas
que me deixaste no lençol
da noite
tilintando provocante
contentando-me inteiramente
nesta musicalidade tão aliciadora
e longamente gratificante
– Deleito-me despido ali à beirinha
onde me emprestas tuas vertigens
e afagos solenes
unindo-nos fraternos
ávidos, desassossegando até o amor
porque a sede de nós
é tão forte
sequestrando-nos nas asas do vento
inteiramente famintas
trepando devagarinho
até os tácteis beijos teus
por fim se exilarem em nós
assim de mansinho
– O teu sabor
sei-o
avivei-o agora
está pulsando livre
salpicando nos ventos desvairado
quando me provo intenso de ti
quando sem tino
salivo outras palavras suaves
gritando como tua sede
me seduz nesta paixão
tão íngreme
plantada à beirinha dos nossos
desejos manietados
pernoitando incisivos entre
tuas ilhargas tão intimas
anatómicas
que quero assim
de uma vez
em ti morrer encarcerado
– E assim me preencho com mil nós
a nós atados
em sonhos que o tempo morrendo
enfim inevitável
nos coa os gemidos enlouquecidos
inteiramente desalmados
FC