Na tua ilharga

Embrenho-me hoje

perto da nudez madrugadora

roubando todas as horas

que me deixaste no lençol

da noite

tilintando provocante

contentando-me inteiramente

nesta musicalidade tão aliciadora

e longamente gratificante

– Deleito-me despido ali à beirinha

onde me emprestas tuas vertigens

e afagos solenes

unindo-nos fraternos

ávidos, desassossegando até o amor

porque a sede de nós

é tão forte

sequestrando-nos nas asas do vento

inteiramente famintas

trepando devagarinho

até os tácteis beijos teus

por fim se exilarem em nós

assim de mansinho

– O teu sabor

sei-o

avivei-o agora

está pulsando livre

salpicando nos ventos desvairado

quando me provo intenso de ti

quando sem tino

salivo outras palavras suaves

gritando como tua sede

me seduz nesta paixão

tão íngreme

plantada à beirinha dos nossos

desejos manietados

pernoitando incisivos entre

tuas ilhargas tão intimas

anatómicas

que quero assim

de uma vez

em ti morrer encarcerado

– E assim me preencho com mil nós

a nós atados

em sonhos que o tempo morrendo

enfim inevitável

nos coa os gemidos enlouquecidos

inteiramente desalmados

FC

Frederico de Castro
Enviado por Frederico de Castro em 23/05/2015
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