O que éramos...o que seremos

Como éramos presas

vivendo apressadamente

nesta alma dispersa

intermitentes

fugindo ao nosso desconhecido

algemado no recôndito oásis

onde morremos acidentados

um dia qualquer

longânimes…acalentados

– Como éramos sonhadores

em tempos irrigados com

lágrimas transpiradas de alento

tentadoramente racionais

impulsivos

necessitando eu

contemplar-te qual aprendiz

divertido pelas nossas lamentações

apaixonadas

exímias

ancoradas a um mar de palavras

fervendo em confidencias requintadas

– Como éramos

poesia decepcionada

mastigando solidões que o corpo

em surtos febris confecciona

Como éramos

pensamentos súbtis

coniventes

embriagados pela fartura

onde mergulhamos a fome

mais resignada

ansiando só nadar…nadar

até nos perdermos de vista

neste mar incompleto de calmaria

onde nos afogamos depois em ondas de alegria

– Como éramos

solitários

despertando fascinados

nos desejos convergindo

em vícios e delírios

celebrando saudades indignadas

lamentos dispersos

tão cansados,perversos indisciplinados

– Como éramos

inconfessáveis

lambendo nosso cio ocasional

prenhe de latidos vãos

despojados num passado

que jaz ali

em campa rasa

morrendo a noite em convulsões

lascivas num fado quase mortuário

em que nos embrenhamos em brasa

– Como éramos

dementes

enquanto o mundo convergia em

anuários de tempo, sem tempo

e nós sem destinatário, conversos

cobríamos de amor toda a eufonia

profilática onde curamos todo o

sopro de ilusões em constante

infindo silêncio

exalando por fim no rubro alvorecer

nossos pressentimentos madrugadores

jejuando até que agonia, me mate

e descodifique esta poesia

saciando-me de vida

num ato penal de suprema cortesia

FC

Frederico de Castro
Enviado por Frederico de Castro em 07/07/2015
Código do texto: T5302688
Classificação de conteúdo: seguro