O vento também chora

Um dia destes

descobriremos outros cantos

percorrendo enamorados

todas as delicias que

orquestrámos nesta existência

manifesta em palavras

sincronizadas assim, neste poema

quase por reverência

– Um dia destes

depois de me esquecer do tempo

entoarei empírico

tantos versos quantos

nossas almas gémeas se reproduzam

acesas pela resiliência

onde resplandecemos imunes

a qualquer acto impenitente

de pura impaciência

… porque o vento eu sei

também chora

velado nesta vida tão passageira

– Um dia destes

se nos reencontramos mesmo que

beliscando as saliências dum grito

de complacência

é contigo que compartilharei

mil anos

ou muitos mais de excelência

até que os destinos permaneçam

camuflados

sem ponto final nem parágrafos

ou cláusulas contratuais

apenas o que resta

na respiga dos ventos que choram

consensuais

– Um dia destes

decifra-me se puderes

desfaz-te em aragens perfumadas

no tempo que amadurece

desabita-me a solidão

não me dês condolências

antes de partir

recolhe somente estas palavras

no vagar de cada anuência

onde deixarei memorizado

o que sou

de mim

já sem nada de nós

apenas inactuais esperanças

breves e momentâneos desenlaçes

até que recobre desta imprevisível loucura

num teorema onde me sirvo

matemáticamente das tuas

sôgregas e inexoráveis semelhanças

FC

Frederico de Castro
Enviado por Frederico de Castro em 22/07/2015
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